quinta-feira, 12 de agosto de 2010



Agora descendo o Col do Soulor, já fervendo da subida mortal anterior. Foto oficial by Mandru:





Eu na decida do Col do Marie Blanque com ventinho frio. Foto oficial da prova by Mandru:

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A prova foi muito dura mas nada além do que eu esperava, aliás estava psicologicamente preparado, mas fisicamente nem tanto apesar de intensos e exaustivos treinos. Queria ter rendido mais, porém a dificuldade de se estabelecer um parametro, já que provas deste genero não existem por aqui, fez com que eu me resguardasse bastante nos 60 kms iniciais até o pé do Col Marie Blaque onde minha velocidade média estava baixa (30km/h) , porém como estava me aquecendo achei prudente andar num ritmo de conforto pra me garantir nas subidas que viriam.

Marie Blanque - Como mencionado aqui no blog anteriormente, apesar de aparantemente ter uma inclinação média baixa 7%, e pouca kilometragem, havia trechos com 13% ou mais de inclinação, o que é muito íngrime. Além disso, como o transito estava ainda muito grande nesse momento, com vários ciclistas ainda agrupados, muita gente praticamente empurrou nos kilometros finais da subida, pois não tinha por onde passar. LOTADASSO! Consegui vencer a montanha sem maiores dificuldades apenas numa velocidade baixa devido ao excesso de ciclistas.

Após o Marie Blanque tem um trecho de quase 50km entre descidas e um platô onde aumentei consideravelmente minha velocidade média. Na parte plana aconteceu umas das coisas mais inusitadas. No meu hotel tinha um cara com uma bike Trek da Equipe RadioShack e trocamos algumas idéias no dia anterior sobre peças leves equipamentos etc. Na hora da prova, nesse momento ele me reconheceu pela camisa do Brasil que vestia (nota especial). O cara pedalava como um foguete, brincando na estrada e as vezes empurrando sua esposa, que também participou da prova. O mais divertido era que o cara usava o uniforme da Radioshack e o numero dele era 21 (igual ao do Lance Armstrong) uma jogada de marketing e tanto, pois o cara ficou conhecido por "Lance". Junto com ele um amigo também fisicamente superior aos demais, vestia o uniforme da Français des Jeux e ainda usava as mesma bike Lapierre dessa equipe. Voltando a prova, ele emparelhou do meu lado e trocamos algumas palavras. Nesse momento ele me chamou pra ir na batida do grupo dele, uma série de ciclistas americanos e franceses, e eu fui. Formamos um pelotão tão grande que devia ter uns 400 ciclistas e com a velocidade média de 40 a 42 km/h por uns 30 km de plano, leves aclives e declives. Nesse momento me empolguei muito pois em certos momentos era o 5o da fila e olhava pra trás e via aquele serpente formada por ciclistas numa manhã ensolarada de temperatura super amena aos pés dos Pirineus. Inesquecível... Depois, no pé do Soulor na cidade de Ferrieres, ele ficou pra esperar a esposa dele e fui encontrá-lo somente na chegada e no hotel no dia seguinte.

Nosso amigo da RadioShack é o ciclista profissional Geoffroy Lequatre campeão do Tour of Britain em 2008. O cara é super simples e foi muito bacana.

Nosso outro amigo da Français des Jeux é o ciclista profissional Sebastien Chavanel campeão do Tour de Picardie 2008 e GP de Denain 2007, outro cara bacana e super solícito!

Voltando ao L'Etape chegava nesse momento naquela montanha mais dura do dia, o Soulor.

Soulor - Montanha típica do Tour de France que serpenteia a montanha em zigue zagues estafantes e que me deu uma baqueada. Sofri demais nos 10 km e já no fim resolvi que se não desse uma pausa ia me dar mal, mas como estava próximo do topo, e lá teria uma ponto de agua, resolvi insistir e meu ritmo despencou. Na gíria do ciclismo estava me arrastando morro acima pois o Soulor tem uma inclinação forte e sem refrescos, o tempo inteiro de sofrimento, muito dura! No ponto de agua parei pra dar um refresco, e vesti minha jaqueta corta-vento pois a descida do outro lado era assutadora, tão que via muita gente esparramada e enssanguentada pelos lados. Era muito veloz e ingrime, não dava pra frear demais pois os freios de bikes para asfalto não aguentam frenagem constante e intensa. O jeito foi "soltar o lacre" e descer como o Vinokourov, o meu Garmin marcou 82 km/h num momento reto que consegui olhar pra ele!

Após o Soulor encontrei um parceiro do Brasil que estava na mesma excursão e como era triatleta e tem bom ritmo no plano, segui junto dele até o pé do cume final: O Tourmalet, onde sentamos num boteco e tomamos uma Coca Cola gelada!

Era tudo que eu precisava. Meus joelhos doiam muito, uma tendinite começava a aperecer, e eu estava fisicamente esgotado. Nesse momento o tempo bruto era de pouco mais de 7:00 de prova e o "survival mode" estava no ON. Relaxei pois o corte de prova não me eliminiaria mais se completasse a montanha em 5 horas. Praticamente impossível se nada muito bizarro acontecesse.

Tourmalet - Assim encarei a temida montanha fora de categoria (HC) e que estreou no Tour de France a 100 anos atrás com Octave Lapize terminando a etapa em primeiro lugar, merecendo uma estátua no topo! Como meu psicológico estava tranquilo com a sensação de realização de um sonho de vida, eu me animava a cada placa de km completado. Agradecia a Deus, a minha esposa, meus pais, irmãos, tios, primos, avós lá do céu, meus amigos e todos aqueles que participaram ou torceram por mim nessa história de vida. Foi demais... Foram quase 8:30 pedalando (a diferença foi o tempo que fiquei parado nos apoios e descansos). Num primeiro momento achei que nunca mais ia fazer isso novamente, agora quero mais! Allez, allez, que venha o Alps de Huez, Verbier ou outra monstruosidade da natureza!
Pessoal, não tive tempo de registrar isso antes pois após a prova eu parti em férias de tudo com familiares pela Europa e foi muito divertido. Sobre a minha prova aí vai meu resultado:
Daniel Bahia da Fonseca Silva

Categoria B - Número 7000

Colocação categoria: 835
Colocação Geral (líquido): 2892
Tempo (líquido): 8:59:29
Colocação (bruto): 2962
Tempo (bruto): 9:12:53